Câmara de Tremembé

Estamos tentando reconstituir, dentro do possível, a história do prédio sede do Legislativo Municipal de Tremembé situado na Rua Senhor Bom Jesus, nº 145 e, conjuntamente, parte da história de nossa cidade. Inicialmente achávamos que o prédio havia sido inaugurado em 1918. Por indicação do Senhor Sylvio de Oliveira Leite, que muito gentilmente nos atendeu na tarde do dia 9 de maio de 2017, em sua casa, fomos falar com a Senhora Geraldina Leite Soares, nascida em 27/10/1917, em Tremembé, portanto, com 99 anos. Popularmente conhecida como Dona Jarda, uma simpatia em pessoa:

Dona Jarda nos contou que seu Tio Antonio Monteiro Patto foi o primeiro membro da família a vir da Itália. Contou que o Rio Paraíba era navegável, para transporte de passageiros, inclusive. O Senhor Antonio Monteiro Patto trabalhava em uma embarcação ou era seu dono, não soube precisar. Seu avô era dono de um Restaurante no porto de embarque e desembarque de passageiros, nas proximidades da ponte velha. Neste restaurante conheceu sua Tia Rita, com quem se casou e constituiu família aqui em Tremembé. Dona Jarda nos contou ainda fatos interessantes de seu tempo:

  • Que na sua infância morou em uma fazenda nas proximidades da Maristela e se lembra muito bem de como os cavalos ficavam incomodados à noite pelo Saci e que nestes momentos ela e seus irmãos corriam assustados para a cama dos pais;
  • Que os cavalos corriam ao redor da casa, muito incomodados, que no dia seguinte amanheciam muito cansados e suados, com as crinas trançadas e embaraçadas e dava muito trabalho para desfazer; que era preciso serem banhados;
  • Que era pertencia à Irmandade Filhas de Maria, e como tal podia trabalhar na Festa do Senhor Bom Jesus, que isto era muito bom porque na época havia poucas oportunidades de sair de casa;
  • Que as festas do Senhor Bom Jesus eram muito tranquilas e que a segurança era feita por soldados do exército;
  • Que as ruas eram de terra, se enchiam de água quando chovia e os homens ficavam entusiasmados porque poderiam ver os tornozelos da mulheres, que levantavam seus vestidos para que não se molhassem;
  • Que os bêbados eram facilmente identificados, porque andavam pelas ruas com as camisas fora das calças, desalinhados e podiam ser recolhidos pelas forças policiais;
  • Que as mulheres não podiam andar pelas ruas após as 21 horas e que se pegas tinham os cabelos raspados, e que isso era verdadeiro porque se lembrava bem de uma contemporânea que teve os cabelos raspados. Com relação ao prédio da Câmara, foram lhe mostradas as seguintes fotos:

Ela disse se lembrar bem desta época, que desde que se lembra o prédio já era assim. Que ouviu sempre em casa, de seus familiares, que seu Tio Antonio Monteiro Patto o havia doado para a municipalidade. O mesmo se deu com a sede do Asilo. Sua versão condiz com documentos que temos. A cidade de Tremembé teve a sua emancipação decretada pela Lei Estadual nº 458, de 26 de novembro de 1896:

Após a emancipação a cidade começou a se organizar. A primeira Sessão de Câmara foi realizada em sete de Janeiro de 1905, primeira Ata do primeiro Livro que temos, iniciada com os seguintes dizeres:

A eleição dos vereadores foi feita em 30/10/04, na Casa do Senhor Antonio Monteiro Patto, nesta mesma ocasião foram eleitos os Juízes de Paz: Antonio Monteiro Patto, Silvano Luiz de Souza e João Luiz de Souza Ribeiro.

Temos um Documento histórico: Escritura de compra, pelo Município, em 21 de dezembro de 1914, representado pelo Prefeito da época Antonio Lourenço Xavier, de dois casarões antigos, esquina das ruas Costa Cabral e São Francisco, de números 53 e 55:

No texto se percebe claramente que o imóvel adquirido confronta de um lado com o prédio do governo municipal e depois menciona novamente: “…faz esquina com a Rua Costa Cabral dividindo também com esta rua até encontrar com a propriedade da Câmara Municipal…”.

Com isto se vê que o prédio existente no local em 1914 já pertencia ao governo municipal, que de acordo com o Livro de Vitorino Coelho de Carvalho, intitulado Tremembé, era sede também da Prefeitura, Procuradoria e Juiz de Paz.

Antonio Santo Manfredini, conhecido como Santinho Manfredini, esteve na Câmara no dia 10 de maio de 2017 e nos contou muito do que sabe sobre a história da cidade e sabe muito. Com suas informações conseguimos concatenar um pouco mais as idéias que tínhamos. Somos muito gratos à sua atenção.

Aprofundando a pesquisa nos nossos documentos antigos encontramos o que buscávamos. As Atas antigas eram bem sucintas e às vezes mencionavam um documento lido e aprovado, sem necessariamente mencionar a que se referiam.

Ao que tudo indica procedem as informações da Dona Jarda, de que o seu Tio, Antonio Monteiro Patto doou para a municipalidade o imóvel para ser a sede do Governo Municipal, sem podermos precisar com que tipo de construção. Não temos imagens de como era. Isto porque a Lei Estadual nº 458/1896 que criou o município de Tremembé, no seu artigo terceiro estabelecia como condição para a emancipação da cidade ter um prédio para ser sede do Governo Municipal.

A Ata do dia 1º de setembro de 1917 nos trouxe uma informação muito importante. Os Vereadores da época, atenderam a solicitação do Prefeito da época Antonio Lourenço Xavier e o autorizaram a demolir o prédio antigo e reconstruir um novo. Como pode ser visto nas imagens a seguir:

Antonio Carlos Ferreira, Ex-Vereador, Presidente de Câmara e Ex-Prefeito, mais conhecido como Metralha, compareceu na Câmara em 17 de maio, gentilmente, atendendo a nosso convite, para dizer o que se lembra sobre a história do prédio.

Disse que quando foi Presidente da Câmara em 1985 e 1986 procedeu à primeira ampliação lateral do prédio na sua face para a Rua Costa Cabral, que passou a ter a quarta e quinta janelas no primeiro piso, que também fez a sua laje e ilustrações externas, desenhadas pelo “Batata”, pedreiro da Prefeitura; que tirou escada interna em caracol e fez a escada interna atual no final do corredor que apenas virava à direita. Com isto o plenário foi ampliado e atual sala da Direção da Câmara foi incorporada ao Legislativo, sendo-lhe dado o nome de Sala Arthur da Souza Praça, em 6 de março de 1986. Isto porque antes disso era usada como sala do Dentista do FUNRURAL. Fez também a garagem e ganhou o primeiro carro da Câmara, um Opala, com doação viabilizada pelo então Deputado Estadual Ary Kara José, uma vez que o mesmo pertencia à Assembléia Legislativa.

Em 1997/98 o então Presidente José Benedito Couto Filho procedeu à outra parte da ampliação do primeiro piso que aumentou o plenário, na sua configuração atual, com face para as três ruas e criou a ante sala atual do plenário, passando a escada interna a defletir também à esquerda. Neste momento a sua parte térrea ainda era usada, parte pela OAB e parte pela Liga Municipal de Futebol. Em 2001 foram criados os gabinetes na sua parte térrea, sendo usado o prédio totalmente para os serviços do Legislativo.

Compareceu a esta Casa em 6 de junho de 2017, o Senhor Júlio Celso Otani, ajudando também na elaboração deste levantamento, com as seguintes informações:

O primeiro veículo a motor comprado pelo município foi um Ford Rhein, pelo então Prefeito Octaciano Xavier de Castro, mais conhecido como Capitão Xavier. O mesmo Prefeito que fez a primeira alteração no prédio original da Câmara inaugurado em 1918, que deixou de ter porão e passou a ter dois pisos. Este Prefeito, para visitar as obras do município andava na garupa da bicicleta do Fiscal municipal Luiz Vicente Marcondes. Posteriormente seu filho Júlio Vieira, também foi Prefeito e na sua Administração a Prefeitura saiu deste prédio e foi para onde é a Escola do SESI e aqui ficou funcionando apenas a Câmara Municipal, no ano de 1979. Mais tarde, em 1981 o Senhor Júlio Vieira transferiu a Prefeitura Municipal para a sua atual localização, na Rua 7 de setembro.

Disse ainda, que até a aquisição deste caminhão a coleta de lixo no município era feita apenas em três ruas, São Francisco, Senhor Bom Jesus e Nossa Senhora da Glória. Este serviço era executado com pequenas carroças e por três irmãos: Manuel Ribeiro dos Santos, Vicente Ribeiro dos Santos e José Ribeiro dos Santos. Os três eram conhecidos como os três velhinhos.

Com isto esta pesquisa pode ser dada como concluída e com sucesso. Nossos agradecimentos a todos os tremembeenses ilustres que nos ajudaram na sua elaboração já nominados acima. Fica nossa homenagem especial ao nosso historiador mor o Senhor Laurindo de Paula, cujas informações e documentos passados em vida sempre nos ajudam a contar a nossa história. Fica ainda uma outra homenagem especial a todos os outros tremembeenses ilustres que trabalharam na construção de nossa história, na construção deste prédio, em todos os seus momentos, anônimos ou não lembrados aqui.

Vimos que a informação inicial se confirmou e que conseguimos comprová-la documentalmente. Dia 12 de outubro de 1918 foi a data da inauguração do prédio sede do Legislativo Tremembeense.